No sétimo dia (quarta-feira, 8 de julho) do congresso da Associação Geral aconteceu o voto sobre a ordenação da mulher. Houveram um total de 2363 votos com 977 votos positivos (41%) e 1381 votos negativos (58%) e cinco delegados se abstiveram (1%).
Devido ao fato de que menos de 6% dos delegados têm menos de 30 anos, e só 10% deles têm entre 30 e 39 anos, a geração dos jovens de nossa época está muito pouco representada na igreja onde forma cerca de 62% de seus membros.
Como uma forma de escutar aos jovens deste milênio, Spectrum está apresentando aos jovens adventistas ao longo do congresso da associação geral. Neste artigo lhes temos perguntando o seguinte:
Como esperava que fosse a votação? Qual sua opinião sobre o resultado da votação? Como se sente sabendo que a votação foi tão apertada? Só 6% dos delegados eram jovens desta geração, como seria o resultado ao seu ver, se houvessem mais jovens como delegados?
Macy McVay, 23 anos, graduada na universidade Walla Walla. Pastora na igreja de Salem.
Passei a maior parte do dia observando e seguindo os eventos do congresso da Associação Geral. O resultado sobre a votação não foi inesperado. Me sinto animada pelos 977 votos a favor (41%!). Pensei que estava preparada para isso. Inesperado foi a difícil hora de decepção e tristeza que me invadiu enquanto minha amada igreja celebrava a decisão. Me encontrei chorando detrais de uma porta, a mesma pela qual sou agradecida de abrir todos os dias, uma porta com inscrição ‘’Pastora Macy McVay”.
Meu telefone começou a tocar e então minhas lagrimas ganharam um novo sentido muito diferente, me sinto acolhida pelo apoio, compaixão, afirmação e amor de meus amigos e colegas.
Ainda que estou decepcionada, confio que Deus pode trazer coisas boas de circunstancias ruins me sinto animada por poder compartilhar minha igreja e ministério com pessoas que se preocupam. Obrigada por suas palavras de apoio.
Julia Ruybalid, estudante graduada da Universidade de La Sierra, e estudante de um mestrado em inglês.
Ao observar a transmissão online da votação ontem, supostamente estava esperando uma votação positiva. No entanto, quando alguém me pergunto qual era minha predição pessoal sobre o resultado, com tristeza respondi institivamente que não acreditava que se aprovaria. Não entendi porque intuí isso. Me sentia cética em relação aos votos manuais e que o sistema de votação tenha mesmo simplesmente deixado de funcionar (embora isso apenas seja minhas teorias de conspirações interior falando) Todo o assunto parecia fora de mim – Qual a necessidade desta votação em primeiro lugar?
Sim tenho esperança pelo fato da votação ter sido apertada, só precisamos convencer 404 delegados a mais (409 se contarmos com os que se abstiveram) de que as mulheres podem ser poderosas líderes espirituais. A votação definitivamente teria sido positiva para a ordenação se mais jovens houvessem participado. Me sinto intrigada pela quantidade de mulheres que votaram em comparação com a de homens. De novo enquanto observava a transmissão online, mencionei que o grupo de votantes não deveria estar composto somente por adultos – isso é muito fácil.
Tenho esperanças, pois sei que os líderes que temos agora não estarão ali para sempre e que os jovens de hoje tomarão seus lugares. É tão estranho para mim. Uma mulher pregadora fundou a essa igreja. Porque há uma desconexão tão grande? Os homens que votaram contra a ordenação da mulher na quarta são os mesmos que citaram as palavras de uma mulher em seus sermões no sábado.
Durante meus anos de ensino médio, tive o privilégio de ter a Chris Oberg como a pastora principal na minha igreja em Calimesa. Ela transformou nossa igreja em um lugar que agora aceita e tem como foco amar nossa comunidade, ao invés de dizer apenas o que devem ou não fazer. Sem este fundamento, honestamente creio que já teria dito adeus ao Adventismo a muito tempo. Para tornar mais claro o porquê de meus sentimentos, a razão é que uma mulher pastora foi o meio pelo qual me sinto identificada com o Adventismo.
Theron Calkins, 25 anos, professor de matemática na Academia Preparação Avançada Coreana.
Me senti decepcionado ao saber que os delegados da Associação Geral votaram contra, permitir que as divisões individuais ‘’como lhes parecessem apropriado em seu território, fizessem provisão para a ordenação da mulher ao ministério evangélico’’. Entendo que esta votação foi mais simbólica, dado que muitas uniões já estão ordenando mulheres, e o resultado desta votação não mudará esse fato, mas ainda assim creio que mesmo as ações simbólicas têm um grande poder. Desejava que o resultado desta votação houvesse sido afirmar aquelas mulheres que já têm dado suas vidas em serviço para igreja Adventista do Sétimo dia. Desejaria que houvessem reconhecido seu impacto e seus esforços, e ainda que dessem apoio as mais talentosas mulheres para dar um passo adiante e levar a mensagem dos três anjos ao mundo. Desejei que esta votação tivesse mostrado mais fé na habilidade de nossa denominação de criar unidade na diversidade de culturas e crenças enquanto que as uniões continuassem seguindo suas consciências sobre este e outros assuntos.
Mas para mim, o aspecto mais decepcionante é a maneira em que afetará negativamente os esforços missionários da igreja, especialmente para os jovens. Além dos efeitos diretos de limitar a obra e as contribuições a metade do corpo da igreja. Também estou preocupado acerca de como esta votação refletirá o caráter e as crenças da igreja.
Muitas pessoas, principalmente os jovens, esperam que suas igrejas sejam uma voz poderosa sobre os assuntos de injustiça social. Eles querem ser parte de uma fé que lute por melhorar a vida das pessoas uma igreja que combata a desigualdade econômica, confronte as injustiças raciais, nutra as minorias sexuais, alente a consciência ambiental, e incorpore a igualdade de gênero. Em resumo esta geração está buscando uma igreja que impulsione as pessoas a viver o reino de Deus agora mesmo neste mundo imperfeito. Esta votação obteve cobertura de mídia nacional e será uma das maneiras das pessoas avaliarem a igreja Adventista, tal como a bíblia diz ‘’por seus frutos os conhecereis’’ Mateus 7:20. Como espalharemos as sementes de nossa fé quando nossos frutos só são 41 por cento pela igualdade?
Esther Battle, 20 anos, licenciada em Sociologia na Universidade de Andrews.
Houveram países representados na votação onde o estupro é uma tática de guerra e as meninas não têm permissão de ir para a escola, acaso é de surpreender que eles votaram contra a liderança feminina na igreja? Somos parte de uma igreja global, e que peleja pelos direitos de igualdade das mulheres, é uma batalha em curso, uma batalha em que até onde sei a Igreja Adventista não tem desempenhado um papel importante. Talvez deveríamos focar nossos esforços no problema muito maior que o sexismo, as atitudes danosas para com as mulheres se queremos que as mulheres sejam vistas como iguais em nossa igreja global.
Eliel Cruz, 24 anos, graduado na Universidade Andrews, Faith Organizer.
Desprezo a noção de que a igreja votou sobre a ordenação da mulher quando a igreja não estava representada no comité de denominações ou na delegação. A voz das mulheres e dos jovens tem sido desejada fora da liderança da igreja e ainda assim os líderes da igreja se queixam da evasão da juventude.
Admito que a votação foi muito mais disputada do que pensei que seria. Ainda assim, nossa igreja é um reboliço, pois no voto foram desprezadas porções do corpo de Cristo.
Era claro no Twitter que os jovens estavam chocados pelo sexismo que se manifestou nos debates de ontem. Os discursos condescendentes e paternalistas dos delegados homens eram pouco menos do que vergonhosos. Como honramos o legado de Ellen White quando negamos a suas filhas a oportunidade do ministério ordenado?
Temos enviado uma mensagem de que a mulher não tem a habilidade de conectar-se com Cristo da mesma maneira que os homens o fazem. Isso é um pouco menos que uma heresia. Nossa igreja deve arrepender-se de seus padrões patriarcais ‘’anti-evangelho’’ que respaldaram ontem. Nossa igreja sofre por isso.
Brooklynn Larson,21 anos Licenciado em História pela Universidade Walla Walla
De agora em diante, qualquer um que votou contra a ordenação da mulher não pode queixar-se acerca dos jovens que deixam a igreja. Os jovens são uma geração gigante, complexa e impossível de ignorar. Eles lideram alguns dos movimentos mais grandes em favor da igualdade, da justiça e das mudanças ao redor do mundo. Mesmo que a igreja se negue a aceitar estes valores, a juventude seguirá avançando. Simples assim.
Givan Hinds,21 anos, graduada pela Universidade de Andrews, e estudante da Universidade de Loma Linda.
Estava chocada. Tinha sido ignorante da posição dos Adventistas sobre a ordenação da mulher, estava absolutamente segura de que a imensa quantidade de testemunhos e estudos da bíblia, investigações e (me atrevo a dizer) pressão que havia sido atestado pelos anos era suficiente para provocar um ressoante ‘’sim’’ nos delegados em San Antônio. Quando o ‘’Não’’ veio depois de um debate politicamente carregado, lendo incontáveis tweets no hashtag #GSCA15 e lendo vários artigos publicados por revistas Adventistas sobre o tema, decidi reler a proposta que ia ser votada. A decisão parecia simples e clara… talvez havia algo que havia passado por alto.
De novo, estava chocada. Me dei conta de que a decisão que se tomou a noite não tem nada a ver com a teologia detrás da OM, e tudo a ver com a permissão das associações de tomar suas próprias decisões relacionadas a assuntos específicos. Claro, nem todas as razões são puras, e uma quantidade definida de sexismo (entre outros ‘’ismos’’) existentes tanto dentro quanto fora da igreja. Eu não vejo esta decisão como o ponto crucial para que os jovens entreguem seus postos de membros da igreja. Vi esta proposta como ‘’uma relutância’’ administrativa para evitar uma decisão culturalmente carregada e que continuará sendo evitada. Enquanto escrevemos nossos apaixonados e socialmente conscientes status do Facebook, a decisão da Igreja foi tomada pelos próximos cinco anos.
Tenho confiança que este assunto ressurgirá no Congresso da Associação Geral de 2020 talvez então seremos capazes de dizer ‘’eu sou os 41 por cento’’.
Jonathan Stephen, 22 anos, licenciado em teologia na Universidade de Walla Walla.
Pessoalmente estava esperando que minha igreja aprovasse a ordenação da mulher. O único debate potencial que pode ser feito biblicamente sobre o assunto é sobre a mulher na liderança, não há nenhuma evidencia bíblica contra a ordenação de mulheres devido a que não há nenhum precedente para a ordenação. É necessária uma construção humana. Muitas das igrejas Adventistas (norte americanas e Ásia me vem à mente) permitem as mulheres ocuparem papeis no pastorado e na liderança. Portanto, a questão não é a ordenação, nestes lugares o assunto é justiça, e não em absoluto sobre as mulheres. É digno notar que a bíblia fala vigorosamente sobre justiça. Nossa igreja deve eleger um lado ou outro, manter-se em uma posição neutra (nem lá nem cá) é logicamente inconsistente e covarde e pouco produtivo. Tenho muito menos respeito pelo grupo de fé que foi elegido que antes.
Lauren Lewis 22 anos, Licenciada em Historia pela Universidad de Walla Walla Editor *en jefe del WWU Collegian
Esperava que não houvesse nenhuma votação em absoluto. Em minha mente a ordenação da mulher não deveria ser um assunto controverso. A ideia de que mulheres não tendo o mesmo direito, trabalhos ou oportunidades que um homem é obsoleto, se ler em um livro de história, e já não é relevante em nossa igreja ou sociedade. Esperava que este tema tivesse sido abordado do ponto de vista da igualdade, não da sensibilidade cultural nem minudências escriturais. Como podemos observar em todos os tipos de rede sociais, isso se converteu em uma discussão polarizada. Tristemente, vejo que este voto deixa a igreja e seus membros divididos e debilitados em uma cultura que não necessita mais discórdias ou hostilidade. Este voto trouxe alguma mudança positiva em nossa comunidade eclesiástica? Desafortunadamente creio que não. Francamente, não estou surpreso pela votação ter sido tão apertada. Estou surpreso pela votação estar contra a ordenação da mulher. A mudança e a revolução na igreja são inestimáveis e está obviamente refletida nos votos. Escutei que muitos dizem ‘’Bom, a votação mudará na próxima AG’’ ou ‘’Só esperemos até a próxima ocasião’’. É um desfortúnio esperar que até a próxima Associação Geral tenhamos que viver com as consequências da votação contra a ordenação da mulher.
Daría Chelbegean, 23 anos graduada pela Universidade de Loma Linda, Enfermeira.
As mulheres também são pessoas. E negamos que sigam dizendo que somos inferiores. Nem por religião, nem por nossos trabalhos, nem por nenhuma classe de dogmas patriarcais. As mulheres são dignas de consideração. E com toda honestidade, não creio que Jesus tivesse votado ‘’Não’’ sobre a ordenação da mulher.
Esta crença de que as mulheres são ‘’menos’’ tem feito escusáveis muitos abusos contra as mulheres na igreja e em geral. Me nego a ser parte deste processo. Não há nenhuma desculpa. As mulheres não são inferiores.
Danielle Fore, 22 anos, estudante da Universidade de la Sierra, Pastora interna da Igreja Adventista do Sétimo Dia de Azure Hills.
Recordo a sensação que tive quando me dei conta que Deus me estava chamando para ser uma pastora. Eu pensei -‘’Serio Deus, eu? Mas sou tão inadequada e sou…. mulher’’? Eu pensava que havia outras maneiras em que podia exercer ministérios sem ser uma pastora dado que as mulheres estavam no centro do debate, mas Deus continuou reafirmando-me e ainda me afirma o chamado que já aceitei. Naturalmente, estive decepcionada pelo resultado da votação de ontem, mas não pude dizer que esperava um resultado diferente. Me senti alentada pelos 977 que disseram ‘’Deus pode usar mulheres’’ e deveríamos reconhecer que Deus as tem chamado’’ creio que se mais voz de jovens houvesse sido presente no processo o número de votos positivos teria sido muito maior. Meus pais me apoiaram 100 por cento em minha escolha de aceitar meu chamado. Mesmo com o resultado da votação de quarta, ainda tenho esperança para igreja que amo e estou comprometida em servir.